Na semana passada pedimos a tua ajuda para a realização de uma sondagem alargada sobre as melhorias de notas. Chegou agora a altura de te revelarmos o que descobrimos.
Com as recentes medidas aplicadas pelo Ministério da Educação, todos os alunos ficaram impedidos de realizar melhorias às suas notas internas, ou seja, tendo já concluído uma disciplina, ficaram impossibilitados de subir a sua nota para efeitos de cálculo da média do secundário.
A motivação por detrás desta decisão do Ministério da Educação foi clara: reduzir o número de exames realizados, fazendo assim com que o risco de contágio e a logística por detrás dos exames nacionais fosse consideravelmente reduzida.
A verdade é que, ao retirarem a obrigatoriedade dos alunos de realizarem todos os exames que lhes eram exigidos para a conclusão do secundário, o governo diminui consideravelmente o número de exames realizados. Veja-se o caso de Português que, sozinho, deverá trazer uma redução de pelo menos 35.000 exames.
Mas será que esse pressuposto também é válido para as melhorias?
Vamos analisar os números.
Ao inquérito realizado pela Inspiring Future na última semana foram inquiridos 3.152 alunos, com representatividade de todo o território nacional, que iriam realizar (em situação pré-COVID) um total de 4.116 exames.
Para que estatisticamente possamos projetar estes dados, de forma a obter uma noção da dimensão da população total, utilizamos os dados do Júri Nacional de Exames e do Ministério da Educação de 2019.
No ano passado, um pouco mais de 25.000 alunos foram realizar pelo menos um exame de melhoria, totalizando cerca de 38.000 exames.
Resta também perceber que, para efeitos de melhoria, os jovens poderiam inscrever-se aos exames com três propósitos: aumentar apenas a nota interna da disciplina (que deixa de ser possível); aumentar apenas a nota da prova de ingresso; ou aumentar ambas.
Porém, do total de exames realizados pelos nossos inquiridos, só 541 foram indicados como apenas para melhoria da nota interna, ou seja, somente 13%. Estes são efectivamente os exames que não vão ser realizados de todo este ano.
Fazendo a correspondência do ano anterior, a medida de impossibilitar as melhorias internas reduz um total de apenas 5000 exames a nível nacional. Este valor é reduzido porque 81% dos exames realizados pelos inquiridos seriam para aumentar a nota interna, mas também, aumentar a nota da prova de ingresso, pelo que vão continuar a realizar estes exames este ano. Fica assim comprovado que o impacto desta medida a nível da redução do risco de contágio e da logística ficará bastante aquém do esperado.
No entanto, o mais grave é que os dados nos mostram que 76% dos inquiridos acabaram por sofrer a consequência dessa medida. Novamente fazendo a correspondência com o ano anterior, cerca de 19.000 alunos poderão este ano ser afectados pela incapacidade de realizar melhorias internas.
É possível também constatar-se que, ao contrário do que se pensa, estes alunos afetados não apenas os que já concluíram o secundário em anos anteriores, dado que 70% dos inquiridos que iriam realizar um exame de melhoria estão ainda a frequentar o 12º ano.
Nesse sentido, a Inspiring Future vê comprovada a ideia que expôs na sua posição oficial sobre as medidas do Ministério da Educação e continua a acreditar que se os alunos começaram o ano com a convicção de que poderiam trabalhar para alcançar as notas que desejam, podem ser encontradas outras medidas de prevenção de risco de contágio, que não apresentem um número de prejudicados superior ao número de exames que serão reduzidos concretamente por esta medida.