Nos últimos anos, o número de estudantes estrangeiros em Portugal não tem parado de crescer. Nos cinco anos lectivos mais recentes para os quais existem dados (2009/10 a 2013/14), o total de alunos não nacionais inscritos no ensino superior passou de 19.425 para quase 34 mil. Um aumento de 74%. “Isto põe-nos à prova”, valoriza Joaquim Ramos de Carvalho, o vice-reitor da Universidade de Coimbra. “Somos obrigados a fazer um esforço muito profundo para melhorarmos sempre.”
Este crescimento no número de estudantes internacionais “é muito importante para toda a gente”, concorda o vice-presidente do Instituto Politécnico do Porto (IPP) para a área da internacionalização, Carlos Ramos. O fenómeno tem um impacto não só na organização das instituições, como a nível financeiro, ainda que a principal mais-valia sublinhada pelo responsável do IPP seja a que diz respeito aos estudantes nacionais. Mesmo que não tenham possibilidades de fazer um período de estudos no estrangeiro, o contacto com colegas de outros países e com as diferenças linguísticas e culturais pode trazer “o mesmo tipo de vantagens que colhem os estudantes Erasmus”, acredita.
Segundo um estudo sobre o impacto do programa de mobilidade europeu, publicado há dois anos, os diplomados com experiência internacional têm mais êxito no mercado de trabalho. A probabilidade de estudantes que fizeram Erasmus sofrerem uma situação de desemprego de longa duração é 50% menor em relação aos que não estudaram no estrangeiro.
200 nacionalidades
O crescimento do número de estudantes estrangeiros inscritos em Portugal tem acontecido sobretudo no sector público, onde o aumento nos últimos cinco anos ascende a 86,6%. No sector particular, a variação continua a ser positiva, mas é mais residual: há mais 1800 alunos não nacionais entre 2009/10 e 2013/14 nas privadas, totalizando 6693 estrangeiros inscritos. Estes dados incluem alunos em mobilidade internacional e estudantes que vivem em Portugal, mas que têm nacionalidade estrangeira. Ainda assim, permitem perceber o aumento da capacidade de atracção do ensino português, que se acelerou nos últimos dois anos com a aprovação do Estatuto do Estudantes Internacional.
De acordo com os dados da tutela, são cerca de 200 as nacionalidades que têm pelo menos um representante no ensino superior nacional, com um peso muito particular dos alunos oriundos dos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Na Europa, os principais mercados de origem de estudantes são Espanha, Itália e a Polónia.
É deste último país que é originária Dorota Stankiwicz, 26 anos. No ano passado, tinha vindo ao Porto duas vezes em passeio e “apaixonou-se” pela cidade. “Decidi que ia fazer tudo o que fosse possível para tentar viver aqui”, conta. Tinha acabado a parte teórica da sua formação universitária em Psicologia e Sociologia, em Varsóvia, e conseguiu um estágio no departamento da Universidade do Porto que acolhe os estudantes estrangeiros. É por isso uma testemunha directa do crescimento do número de alunos de fora naquela instituição.
“Têm uma excelente cooperação internacional, acordos com universidades em todo o mundo e fazem boa publicidade”, elogia.
A explicação para a maior notoriedade internacional do ensino superior em Portugal tem várias dimensões para Carlos Ramos: “É preciso enviar e receber alunos, estar em redes internacionais, mas também é importante a participação em projectos internacionais.” No caso do IPP, a grande visibilidade no Brasil, que lhe garante um contingente anual de dezenas de alunos daquele país, explica-se pelo facto de serem professores daquele politécnico a liderar investigações feitas em parceria com algumas das principais universidades brasileiras.
Estas estratégias têm permitido a Portugal começar a aparecer nos “radares” internacionais como destino a ter em conta. No final do ano passado, a maior base de dados mundial sobre experiências de estudantes internacionais, a STeXX.eu, colocou o país como o nono destino favorito dos seus mais de 7000 utilizadores, com uma nota média de 8,9 em 10 valores possíveis. As universidades de Aveiro e Coimbra receberam então um certificado de satisfação extraordinária dos alunos, por terem tido classificações próximas da perfeição (9,5) e outras três instituições (ISCTE, IPP e Universidade do Porto) receberam classificação de “excelente”.
Fonte: PÚBLICO