Querido Estudante,
Não sei qual foi o motivo que te levou a ter curiosidade em ler esta carta. Talvez tenha sido o título, talvez tenha sido uma recomendação, talvez tenha sido o tédio ou talvez tenha sido o mero acaso. De qualquer forma, confesso que não me interesso particularmente pelo caminho que percorreste até chegar aqui. Importa-me, sim, o que poderás percorrer depois desta leitura.
Acho curioso falar de estudantes e de caminhos no mesmo parágrafo. Curioso mas, ao mesmo tempo, inevitável. Afinal, que outra palavra é capaz de descrever “estudante” melhor do que “viajante”? Espero que esta carta constitua um oásis revitalizante na tua jornada.
Devo começar sem dúvida por te dar os parabéns. Aquilo a que estás sujeito diariamente é muitíssimo difícil de suportar. A matéria, os testes, os colegas, o clima à tua volta, o clima dentro de ti... Tenho a certeza de que já te aconteceu, por várias vezes, chegar a casa esgotado ao fim do dia e perguntares-te a ti mesmo, consumido pelo desespero: “Porque é que eu não consigo lidar com isto? Qual é o meu problema? O que é que eu faço?”. Agora, pela primeira vez, obterás respostas às tuas perguntas.
Por vezes não consegues lidar com esta vida de estudante por um motivo simples e que te é completamente alheio. Tu não és apenas um estudante: és um jovem. Isto é um problema? Não! Pelo contrário, é uma fase lindíssima e inesquecível da tua vida. O único problema é que há muitas coisas no nosso sistema de educação que se esquecem deste pequeno “detalhe”.
Enquanto estudante, é esperado que sejas capaz de definir equações cartesianas ao mesmo tempo que, enquanto jovem, é esperado que tenhas a capacidade de definir a tua personalidade. Enquanto estudante, é-te exigida uma análise demorada e cautelosa a excertos de Garrett acerca de corações partidos; enquanto jovem, tu próprio trazes dentro de ti, em algum momento, um coração partido que necessita de tempo e de cuidados. Enquanto estudante, vês-te obrigado a decorar como é o mundo. Mas, enquanto jovem, só queres uma pequena oportunidade para poder olhar para ele e compreender como funciona (não só o mundo exterior como também o mundo interior que tem vindo a florescer dentro de ti, de forma tão bonita e inexplicável).
O teu problema? O teu problema é pura e simplesmente achares que tens um problema. Ultrapassado esse obstáculo e aceites os teus limites, serás capaz de ir muito mais além do que julgavas conseguir. Como mencionei há pouco, um novo mundo está a surgir dentro de ti, e é natural que este pareça demasiado complexo para se encaixar na superficialidade que te rodeia.
Os teus sonhos e as tuas ambições, a tua complexidade e as tuas asas...talvez os testes não sejam capazes de as reconhecer agora, mas não as cortes por isso. Elas permitirão ao futuro brindar-te com momentos maravilhosos, que te farão olhar para trás e compreender que tudo isto valeu a pena. É certo que não é nada fácil alimentar o presente tumultuoso com um futuro eventualmente feliz...mas está provado que tu és bem capaz de aceitar grandes desafios. Aceita só mais este, pois pode fazer-te muito bem.
O que é que fazes? Como é que superas toda esta realidade afinal? Simples: sonha. Vê cada um dos dias difíceis como uma oportunidade de tornar o futuro mais simples. Constrói sobre cada barreira uma ponte e uma janela, para que possas olhar para trás e relembrar-te do que superaste. Acredita em ti, reconhece o teu valor. Afinal, há valores muito mais importantes do que os que aparecem no cabeçalho das folhas de teste...quantas pessoas além de ti se podem orgulhar de os ter?
Espero que estas palavras te possam acompanhar durante muito tempo e que, de alguma forma, te tenham dado sentido e te tenham feito sentir alguma coisa. Como o bom estudante que és, tenho a certeza que as compreendeste.
Agora é hora de ser um bom jovem e de as colocar em prática.