O exame nacional de Filosofia aproxima-se e, sobretudo se já tiver passado algum tempo desde que frequentaste as aulas de Filosofia, convém estares atento a estas seis armadilhas. São seis pares de conceitos parecidos à superfície, mas bem diferentes na substância!
Ao longo do artigo, diversas ligações conduzem-te ao canal A Tua Filosofia, em que os conteúdos de Filosofia são explicados com uma tentativa falhada de os cruzar com algum humor. Por favor, consulta o canal apenas em caso de estrita necessidade, considerando a elevada taxa de momentos cringe.
Validade vs verdade
Ambos estes conceitos devem estar plenamente dominados pelos teus neurónios lógicos. Mas são noções diferentes. A validade é uma qualidade dos argumentos. Um argumento com validade, ou argumento válido, é aquele em que, se as premissas forem verdadeiras (e atenção a este “se”), então a conclusão é garantidamente verdadeira. Por sua vez, a verdade é uma característica de proposições, relacionada com a sua correspondência com um estado de coisas. “Julinho KSD canta óperas de Verdi” é uma proposição falsa, enquanto que “SippinPurpp tem sauce” é, pelo menos de acordo com o mesmo, uma proposição verdadeira.
Contrárias vs contraditórias
Recorda-te do Quadrado da Oposição de Aristóteles (Tó para os amigos). “Todos os Profs são Jam“ é contrária da proposição “Nenhum Prof é Jam”; e as contrárias podem ser as duas falsas, ou uma verdadeira e outra falsa, não podendo ser ambas verdadeiras. Diferentemente, “Todos os Profs são Jam” e “Alguns Profs não são Jam”, e “Nenhum Prof é Jam” e “Alguns Profs são Jam”, são, entre si contraditórias. Ou seja, em cada um destes pares, se uma das proposições é verdadeira, a outra é falsa, e vice-versa.
Disjunção exclusiva vs disjunção inclusiva
Usamos uma disjunção exclusiva quando dizemos “ou, ou”, ou quando se assume, pelo contexto, que ou ocorre uma coisa, ou ocorre outra. Se digo “calço agora ou uns chinelos ou uns sapatos”, esta frase será verdadeira se eu fizer uma coisa, ou a outra. Se eu fizer ambas – o que seria bastante esquisito –, a disjunção exclusiva é falsa. De modo mais abrangente, a disjunção inclusiva é um “e/ou”: ela é verdadeira se apenas uma das duas disjuntas ocorre, mas também se se verifica ambos os casos. Se digo “vou jantar fora ou vou ao cinema”, posso apenas ir jantar fora, posso apenas ir ao cinema ou posso fazer ambos (se tiver poupado a mesada).
Modus ponens vs modus tollens
Ambas estas designações provêm do latim e remetem para formas de inferência válida. O que elas têm em comum é terem duas premissas e uma conclusão, bem como começarem por uma condicional. Modus ponens significa “modo de pôr” e, assim, na segunda premissa afirma-se a antecedente. Eis um exemplo – “premissa 1: Se mergulhas na piscina, molhas-te. premissa 2: Mergulhas na piscina. conclusão: Logo, molhas-te.”. Modus tollens não significa, claro está, o modo dos tolos (piada seca perante a qual podes fingir um sorriso). Significa, sim, “modo de negar”. Na segunda premissa, nega-se a consequente. Repara na diferença: “premissa 1: Se mergulhas na piscina, molhas-te. premissa 2: Não te molhas. conclusão: Logo, não mergulhas na piscina.”
Ideias e impressões
No célebre sistema empirista de David Hume, há que distinguir as ideias das impressões. As impressões resultam diretamente dos sentidos externos (sensações) ou do sentido interno (sentimentos). As ideias têm a sua origem nas impressões, sendo a sua cópia e, como tal, sendo menos nítidas. Resultam, pois, primeiramente, da memória que se tem das impressões do passado; a mente pode, posteriormente, através da imaginação, combinar ideias simples em ideias complexas (como a de uma discoteca voadora).
Teleológico vs teológico
O termo teológico não é um dos nossos conceitos programáticos. Remete para o estudo religioso, sendo composto por theós (Deus) + logos (discurso racional). “Então mas se isto não é um conceito para estudar, porque entra neste artigo?!”, podes estar agora a perguntar-te. Ora, acontece que muitas vezes se confunde teológico com teleológico. Esta segunda palavra entra sim no nosso caminho de aprendizagens – é um dos argumentos teístas que deves aprender. Telos, também do grego, remete para finalidade (e é com a palavra “finalidade” que alcançamos o fim deste artigo).
Professor David Erlich
Autor do canal “A Tua Filosofia”