Sim, leste bem o título deste texto. Digamos que tudo se baseia numa questão de perspetiva. E sim, eu sei que “é uma questão de perspetiva” é a mais famosa desculpa para evitar um qualquer debate, logo a seguir ao tradicional “depende”, mas acredita que neste caso é mesmo uma resposta válida.
Ora comecemos no dia em que marquei a minha primeira viagem, digamos, “extra-península”. O destino? Paris. Eu sei que não é um destino exótico qualquer onde andas de camelo ou tens aulas dadas por um guia espiritual de vestimenta no mínimo “alternativa”, mas tinha de começar a minha vida de viajante por algum lado. No entanto, aqui este estreante nestas andanças tem um domínio da língua francesa na ordem da “baguete” e do “croissant”, nada mais, o que iria tornar a Língua Inglesa no foco principal das minhas capacidades comunicativas durante esta aventura.
E o que é que esta viagem tem a ver com este texto? Bom, tudo começa quando reparo que estou no meio dos corredores enormes e pouco sinalizados do aeroporto principal de Paris, sozinho, desesperado, à procura de uma única placa a dizer “exit” ou “sortie”, mas nada. De repente, vejo o típico símbolo de “I”, (de Informação) que surge na minha mente como a única solução possível, solução esta que, no entanto, me levaria a ter de usar o meu Inglês pela primeira vez num ambiente sem os típicos “Tugas”.
A minha cabeça, como devem imaginar, era toda uma sopa de incerteza, com tempero de hesitação e uma forte pitada de medo. E quando tudo parece desabar, surge uma frase no meio daquela sopa, uma frase qualquer cuja única parte que me lembro é a expressão “figura triste”. Aí tudo fez sentido.
Estranho? Talvez, mas pensa comigo: Perguntar onde era a saída a alguém seria tão ou mais ridículo que a imagem de alguém, de um lado para o outro, no meio do aeroporto, a olhar para tudo o que é placa, e a falar sozinho enquanto as lê? Mas depois de arriscar e comunicar, lá consegui sair do aeroporto; e, adivinha, no final de contas, o meu Inglês enferrujado afinal não era tão enferrujado como eu pensava.
Agora, que já te contei a “história da carochinha” falta, obviamente, a parte da moral, típica de todos os contos de fada que ouviste em criança. Bom, essa moral é na verdade muito básica: Fala, interage, pergunta, responde, comunica, estes e todos os outros verbos que deem aso à tua proatividade e que te façam libertar-te das tuas hesitações.
Uma “figura triste” nada mais é que que um “mal necessário” sem a parte do “mal”, uma necessidade, portanto; necessidade essa que te pode trazer muito mais do que pensas, desde experiência, habilidade, ou mesmo oportunidades únicas na tua vida, seja a nível profissional ou mesmo pessoal.
Agora deixa-me “roubar” o teu papel e levá-lo a cena neste preciso momento. Sei que no guião para esse tal papel surge a derradeira palavra: vergonha. Mas, adivinha, essa terás sempre, por muito pouco que se manifeste ao longo do tempo. E queres um exemplo? Eu faço teatro há cerca de 6 anos e mesmo assim não me dirigi de imediato ao tal mágico “I”.
Por isso, acredita em mim: todos têm o demónio da vergonha, e o único exorcismo que podes realmente fazer é aprender como tornar esse conceito numa carta de dois lados em que, dependendo da situação, tornas visível o lado da vantagem, usando-a como meio de autocontrolo, ou o lado do obstáculo, ultrapassando como qualquer outro na tua vida.