Boa da cabeça nunca fui. Também acho que isso não vai mudar muito. Ora vejamos:
O QUE ACONTECEU EXATAMENTE?
Num belo dia, estava eu a viver na Austrália e a divertir-me a enviar currículos quando me deparei com um anúncio espetacular: um projeto social pensado e feito por uma universidade em Sydney. Era perfeito ao juntar todas as áreas de que gosto. O fundador daquilo era uma personagem saída de uma comédia: o cabelo carapinha em pé, tatuagens, em que a foto profissional no site da universidade é ele a sorrir drásticamente com os olhos esbugalhados. Tinha um currículo que me fez soltar “quando for grande quero ser assim”.
QUAL FOI O PROBLEMA?
A oferta de trabalho era para o cargo de coordenação geral do projeto. E isso era um problema, Filipa? Estavas com falta de confiança? Pois claro! Sabia também que uma estrangeira com um visto limitado, e com pouco conhecimento (zero de prática) a trabalhar com a comunidade aborígena, não correspondia aos critério de seleção. Mas eu pensei “epa, eu tenho de conhecer este tipo porque tenho muita coisa para lhe perguntar”. Fiz um currículo à maneira, a puxar os meus galões para o cargo em questão e esperei pela resposta.
E ENTÃO?
Fui chamada! Estudei o projeto todo, demorei mais de uma hora a lá chegar e no início entregaram-me uma folha com todas as perguntas que íam fazer. 20 perguntas! Quando entrei estava o fundador de olhos esbugalhados (yeah!), uma senhora que trabalhava no projeto (na teoria, se ficasse, eu ía mandar nela) e o diretor da faculdade de ciências sociais e humanas da universidade. Medo! Mas eu estava ao rubro! “Não vou ficar nisto, mas vou ter a oportunidade de falar pessoalmente com esta gente!”.
MAS FICASTE OU NÃO FICASTE?
Bom, eles perceberam logo que eu não era australiana, com poucos meses a viver lá, o que dificultava a aproximação cultural, que era muito importante para eles. Mas eu fui logo muito sincera e disse “Olhem, eu sei que não vou ficar mas adorei o vosso projeto! Também já fiz projetos na área social ligados ao ensino superior em Portugal e isto é brutal! Posso fazer-vos umas perguntas?”. Acho que eles acharam piada e basicamente tivemos uma hora a falar sobre o nosso trabalho. Fiquei com os contactos do projeto e neste momento é uma referência muito importante para mim.
E não, não fiquei! E já sabia mas o meu entusiasmo máximo nem era lá ficar mas sim falar com eles, coisa que, em outras cirscuntâncias, dificilmente teria oportunidade.
Valeu a pena? Claro que sim. Faço isto a toda a hora? Claro que não. Mas neste caso específico foi importante por três razões:
- Estava a adaptar-me a um país diferente e precisava de experiência em entrevista. Evitar não resolve, portanto fui enfrentar o bicho;
- Num processo de procura de emprego é muito fácil cair na frustração porque os resultados esperados não são normalmente imediatos. Conseguir tirar proveito das situações de forma positiva reforça a nossa motivação;
- Desenvolve a nossa curiosidade de ligar pontos inesperados. À primeira vista pode não fazer sentido nenhum nem ser útil mas mais tarde vamos buscar essa informação e somos naturalmente pessoas mais interessantes pelo conteúdo que acumulamos e ligações que estabelecemos.
Isto sim, é viver no limite! #svuv #yolo