Porque o passo que vais dar depois de acabares o secundário pode ser ainda uma incógnita, a Inspiring Future vai continuar a partilhar contigo artigos escritos por profissionais de diferentes áreas. Esta semana, convidámos a Sofia Correia, Enfermeira licenciada pela Escola de Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa, para contar a história do seu percurso académico e profissional como Enfermeira. Esperemos que estes artigos te ajudem a tomar uma decisão mais ponderada em relação ao teu futuro!
Como muitos de vocês no meu 12º ano não sabia o que fazer, não sabia o que queria, nem que curso escolher, muito menos que escola escolher. No meio da ansiedade de estudar para os exames e, em risco de não conseguir boas notas, não encontrava paz para pensar no assunto e quanto mais pensava mais ansiosa ficava - uma “bola de neve”, como se costuma dizer.
Desde o 9º ano que sabia que o meu interesse despertava mais na área das ciências, mas por outro lado as matemáticas e as físicas davam-me grandes dores de cabeça. Até aqui foi fácil, sabia que era de ciências, mas… e depois? As ciências têm tantas, mas tantas possibilidades! Começava a pensar nisto e a sentir a ansiedade a crescer.Todos nós, neste momento, quase que não pensamos noutra coisa e tentar negar isso, só atrasa a tomada de decisão.
Uma coisa sabia, sabia que queria trabalhar com pessoas e não ficar sentada a uma secretária a falar com computadores. Já não estava mal, sabia que era de ciências e que queria trabalhar com pessoas. Fiz testes psicotécnicos e nos resultados falámos da Psicologia, do Direito e da Enfermagem. Foi a primeira vez que a Enfermagem entrou na lista de possibilidades. Eu nunca tinha pensado nisso, fiquei indecisa... Direito não tinha muito a ver comigo, foi logo excluído, a Psicologia fez-me ficar entusiasmada, e a Enfermagem fez-me “torcer o nariz”. Sabia que a Psicologia ia provavelmente interessar-me bastante e sem dúvida que era algo que me via a fazer no futuro. Mas a Enfermagem deixou-me intrigada, quis saber mais...
Fiz várias pesquisas (na altura não havia os Dias Abertos, nem todas as vossas oportunidades de informação – recomendo que as agarrem com “unhas e dentes”).
Considerei mesmo necessário falar com outras pessoas sobre a profissão, pessoas que já precisaram de um enfermeiro, que eram amigas de um enfermeiro, que viviam com um enfermeiro. É a melhor forma de conhecer a profissão: perguntar ao próprio e aos que o rodeiam. Estava já muito perto de ter que decidir e nessa altura confesso que fui parcialmente “às cegas”, nunca iria ter a certeza de nada, decidi não ficar a pensar no que poderia ter sido e arriscar no que poderia vir a ser. E assim foi: escolhi aquilo que me intrigava mais, aquilo que me despertou interesse, o que me fez querer saber mais: a Enfermagem.
Depois começou o dilema das escolas! Aqui, recomendo falarem com profissionais da área e deixem que eles vos digam quem são os colegas mais bem formados e onde têm que ir para serem os melhores. Dentro das 2 ou 3 melhores opções, escolham a que mais se identifica convosco, quer seja pelos valores da instituição, pela estrutura curricular, pelas bolsas de mérito, pela proximidade de casa, etc. O que for mais importante para vocês! Eu escolhi a melhor – sei que é uma opinião totalmente parcial – mas perguntem por aí que vão dizer-vos o mesmo!
Considerei um investimento no meu futuro, que até agora já compensou. O mundo profissional não está fácil, está cada vez mais competitivo e as empresas e setores empresariais não perdem tempo a entrevistar pessoas que não têm uma promessa de algo muito bom e a escola onde me formei abriu-me muitas portas, destaca-nos na multidão.
Entrei no curso que queria e prometi a mim mesma que se após o primeiro semestre não gostasse, mudava de curso. Não foi preciso... Passado 1 mês, estava viciada. O Curso de Enfermagem é um curso duro e complexo. Não vão aprender só a tratar do corpo humano, vão aprender a cuidar da Pessoa. Aprender a ser o vosso próprio instrumento de trabalho. É um curso que além de nos ensinar tudo o que é preciso saber para cuidar, obriga-nos a crescer e a moldar o nosso comportamento, ensina-nos a termos todas as ferramentas necessárias para um dia estarmos com alguém e estarmos preparados para qualquer coisa, quer seja pôr um soro ou abraçar alguém que chora. Saber o que dizer, quando dizer e como dizer – ou quando não dizer.
Durante o curso foi possível passar por vários ensinos clínicos, cada um deles deu-me a possibilidade de aprender muito sobre a Pessoa mas ainda mais sobre mim. É um curso único, em que não só se aprendem as disciplinas, mas também nos conhecemos a nós próprios, com uma profundidade incrível.
Na Enfermagem estamos com a Pessoa, muitas vezes no pior dia das suas vidas, às vezes no melhor dia da sua vida, sempre nos momentos mais intensos. Para isto, é preciso não só ter um conhecimento técnico profundo e saber desempenhar bem as funções, mas também, ser humano a desempenhá-las, cuidar do outro, olhar realmente e saber o que se procura e compreender o que o outro precisa realmente. A partir do momento em que escolhi SER ENFERMEIRA percebi que não foi escolher um trabalho que gostava de ter, mas sim uma profissão que queria para a vida inteira, é a verdadeira resposta à pergunta “O que queres ser quando fores grande?” Porque vou ser Enfermeira para o resto da minha vida, está em mim.
Aprendi a fazê-lo e não dá para voltar atrás, é um universo enorme de oportunidades, há tanto por fazer ainda, tantos que precisam de cuidados e poucos com o devido acesso. Há muito por estudar, muito por saber e a Licenciatura em Enfermagem abriu uma porta para todo um caminho de possibilidades. Foram 4 anos de histórias, de amizades, de sorrisos, de esforço, de mérito, de dedicação, de choro, de empenho, de trabalho e acima de tudo foram 4 anos de crescimento. Cresci não apenas para a profissão, como também cresci como pessoa. Ganhei competências profissionais e competências pessoais que, neste curso são indissociáveis.
Passados seis meses de conclusão do curso, percebi que aquela primeira escolha quando entrei para a universidade foi a primeira de muitas. Quando terminei o curso entrei para o Hospital de Santa Cruz, no serviço de Cirurgia Cardiotorácica. Todos os dias defendo os meus doentes, os seus direitos e vontades, guardo os seus segredos e luto pelos seus maiores interesses, ouço as suas histórias, problemas e inseguranças, aconselho e encaminho para que vejam a solução, ou alguma claridade.
Todos os dias tenho uma história gira para contar, todos os dias ouço um obrigado, vejo um sorriso no rosto de alguém que realmente ajudei.
É uma sensação impagável. Apesar de ser uma das profissões mais exigentes, é sem dúvida a que me faz mais feliz.