O meu cão nunca foi muito obediente, não por falta de inteligência, mas por falta de vontade. Se eu lhe disser para ele estar deitado, podem ter a certeza de que ele fará tudo menos estar deitado - mais facilmente faria o pino só com uma pata, precipitando-se para uma cambalhota perfeita, do que me obedeceria.
Ainda assim, há uma coisa que ele sabe - o meu cão sabe que, por muito chata que eu seja, às vezes precisa de mim. Ele mesmo o disse com estas palavras: ouve, és chata, mas eu sei que preciso de ti. Não me considero chata, mas... se é verdade que ele precisa de mim? Sim, é. Porque se o trancar no quarto, ele não se safa com as suas patinhas, que, apesar de fofas, são inúteis para destrancar a porta.
Ele precisa mesmo de mim. Mas eu também preciso mesmo de outras pessoas. Por muitos defeitos que os professores tenham, eu preciso deles para aprender. Eu preciso de amigos que me apoiem. Eu preciso de pessoas que ralhem comigo quando estou no caminho errado. Eu preciso de desconhecidos que me ajudem se eu precisar. Eu preciso do meu cão.
Assim, gosto de acreditar que quando me dão lições - seja de que tipo for - eu eventualmente precisarei mesmo dessas lições. Gosto de acreditar que quando um professor ralha comigo porque falo de mais, eu eventualmente preciso mesmo de me calar.
Ora bem, por muito desobedientes que sejamos, há momentos em que somos obrigados a aceitar a mão de alguém para nos levantarmos. Vivemos em sociedade, e viver em sociedade implica que aceitemos que estejam cá para nós, mas implica também que estejamos cá para os outros. E então pergunto-me: estarei mesmo a dar o meu melhor? Estarei a ajudar assim tanta gente, ou será que posso ajudar um pouco mais?
Pergunto-te: estarás a dar o teu máximo, ou podes fazer um pouco mais? Estás a dar só uma mão, mas podes dar mais? Então dá mais, dá as duas. Estás a ajudar dez pessoas, pois bem, ajuda vinte. Aceita o conselho da tua amiga chata, aceita o ralhete do teu pai chato, aceita os deveres do teu professor chato. Tudo isso é necessário para continuares a tua vida. Tudo isso é necessário, exatamente como sou necessária ao meu cão.
E, okay, eu nem sequer tenho um cão, e mesmo que tivesse ele não me diria nada, mas se eu tivesse um cão, e se ele falasse, então era isto que ele diria.