Toda a gente devia trabalhar num restaurante indiano

Co-Fundadora do Projeto Inspiring Future
30 janeiro 2021
Opa, um dia destes passei-me e meti conversa com um senhor indiano e ele deu-me trabalho. Foi assim. Não, foi mais ou menos.
Passo a explicar: depois de um mês e pouco sem nada de muito útil que fazer, já estava farta de ir à praia. Estava quase na hora de almoço e disse “que se lixe, vou almoçar fora!”. E fui.

 

Entrei num café muito jeitoso na minha rua, pedi e disse “epa, hoje está muito calor”. O dono do café, um senhor indiano, de 70 anos com ar enérgico, todo de preto, com uma t-shirt a precisar de ser lavada há 15 dias, mostrou o sorriso e agarrou na minha afirmação para meter conversa. Bla bla bla, estou cá por isto e por aquilo, bla bla bla, ando à procura de trabalho, bla bla bla… “não estás a precisar de ninguém?”. Ele disse que para além do café, tem um restaurante indiano “aparece lá no próximo domingo e vemos como te dás”. Foi assim. Até parece fácil até à hora em que meti lá os pés e percebi que tinha um menu (de 10 páginas) com o nome dos pratos em indiano.

Estou a escrever sobre isto porque me lembrei dos alunos nos meus workshops que raramente diziam que tinham trabalhado num restaurante/café porque achavam que isso não era importante. Depois às vezes demoravam muito tempo a responder à pergunta: “o que é que aprendeste com isso?”.
Portanto, hoje volto a reafirmar: “Sim, isso é importante!” e vou dizer-vos o que tenho aprendido e que vai (de certeza!) ser muito útil no resto da minha vida:

1. Lidar com clientes: pessoas esfomeadas ficam impacientes, não fazem o jeitinho para nós pormos a comida na mesa (em cima do telemóvel não vai dar, não é?) muito menos para levantarmos os pratos;

2. Multitasking: enquanto fazemos o pedido a uma mesa, está a entrar um grupo de cinco pessoas, não nos podemos esquecer que a mesa 4 pediu uma coca-cola, que o puto da mesa 7 deixou cair o garfo, a cozinha está a chamar para servir duas mesas e o tipo da loiça decidiu encher a bancada de serviço com pratos empelhados até ao teto para limpar antes de chegarem os copos daqui a 3 minutos;

3. Trabalho de equipa: temos o resto dos nossos colegas com os mesmos dramas e temos que comunicar a toda a hora senão esquecemos de apontar o pedido de arroz extra da mesa 5 e que há 2 mesas para limpar na sala do fundo. Mesmo em dias loucos, podemos facilitar o trabalho da cozinha ao separar os pratos sujos dos talheres e segurar a sala enquanto o nosso colega vai fazer xixi porque está aflito há duas horas;

4. Trabalhar sobre pressão: os clientes não têm a culpa porque está um dia complicado, porque temos menos uma pessoa na equipa ou porque estamos com dor de barriga porque provámos o curry. Eles querem comer na mesma e com bons modos. Parece-me justo porque eu quero o mesmo quando vou jantar fora;

5. Honestidade: lidar com dinheiro que não é nosso é uma grande responsabilidade e requer muita atenção;

6. Deixar de ter a atitude “estou-me a cagar!”: os clientes não querem comer o que não pediram, não é igual se deixarem os talheres para limpar para a equipa do dia seguinte, e ser atencioso mesmo quando estamos exaustos faz toda a diferença à imagem da empresa.

 

Bom, há muitas mais coisas que poderia dizer que tenho aprendido, mas depois isto fica muito grande. Agora já sabem o que responder quando vos perguntarem o que aprenderam ao trabalhar num restaurante (indiano ou não mas indiano é mais giro porque eles desatam a falar uns com os outros e parece que estão a ralhar mas depois começam a rir e tu ficas “what?”).