Carpe Diem, por definição, significa “aproveita o dia”, ou seja, atingimos a felicidade aproveitando a vida a cada dia. Supondo que o homem vive pretendendo atingir a felicidade, somos, portanto, tentados a embarcar nesta filosofia de vida, sentindo uma certa responsabilidade de aproveitá-la, dado que é a única que temos.
Para ajudar, lemos notícias de pessoas que abandonam todos os seus bens, as suas casas, as suas rotinas entediantes, as suas tarefas monótonas, ora do trabalho, ora da casa, para se entregarem à adrenalina. De mochila às costas lá vão elas em busca da aventura.
E, na solidão do nosso quarto, no tédio da vida monótona que não abandonámos, pensamos em fazer o mesmo. Mas talvez depois dos estudos. Pois acontece que ao mesmo tempo que sentimos essa ânsia de viver, essa ânsia de aproveitar a vida ao máximo, é-nos também imposto o ideal de lutar para atingir objetivos. Aprendemos que não podemos ser passivos.
Afinal, “o dinheiro não cai do céu”! Mas então como é suposto aproveitar a única vida que tenho, se preciso de estar a estudar, e como é suposto ter vontade de estudar, se estou a perder a única vida que tenho? E – surpresa, surpresa – como se não fosse o bastante, é possível estudar-se a vida toda!
Pois bem, acontece que estudar não é necessariamente uma perda de tempo. O cliché do artigo seria dizer-se que ganhamos um vasto leque de conhecimentos a estudar. Mas é verdade. Muitas críticas são feitas às instituições de ensino, por serem incapazes de preparar os alunos para a vida adulta. E até poder parecer que os estudantes são cada vez mais obrigados a reter a informação decorando-a.
No entanto, acontece que essa informação é aplicável ao mundo prático. Por exemplo, a simples detenção de conhecimentos em relação à história contribui para o enriquecimento intelectual e para o estímulo da cultura geral, mesmo que seja impingida sobre a forma teórica.
Este mesmo enriquecimento contribuirá, por exemplo, para ganhar capacidade argumentativa e comunicativa. Ou seja, o facto de não nos podermos restringir unicamente à área que dominamos, dá-nos a capacidade de discutir melhor e sobre mais temas. E, na verdade, a nossa experiência e as nossas vivências são a consolidação dos conhecimentos que obtivemos por meio dos estudos – pois existe uma diferença entre estudar a segunda guerra mundial e falar com uma pessoa que viveu as crises consequentes da segunda guerra mundial. Como em tudo na vida, é preciso manter a mente aberta para a descoberta.
Além disso, os estudos permitem-nos abrir a perspetiva para as mais diferentes alternativas de vida. Sendo o ensino imparcial, independente das crenças pessoais, pode obrigar-nos a pôr em causa tudo aquilo em que sempre acreditámos sem duvidar. E se o conhecimento passa por admitir que nada sabemos – como um grande filósofo diria – é importante sermos obrigados a voltar atrás, a olhar para o passado para perceber o futuro, a olhar para as diferentes formas que a mente humana pode trabalhar.
Quer isto dizer que a vastidão de cursos, a vastidão de disciplinas, a vastidão de matérias, dão-nos também uma pequena consciência da vastidão do mundo. Dão-nos a consciência de que, neste mundo tão vasto, podemos fazer tantas coisas, que com certeza haverá um lugar onde nos possamos encaixar. Dão-nos a consciência de que, independentemente da idade, de tudo o que já aprendemos, de tudo o que já vivemos, de tudo o que já sabemos, é sempre possível saber mais. Considere-se outro grande cliché: estudar não tem idades.
Deste modo, o ideal de aproveitar a vida ao máximo não tem de ficar comprometido porque queremos estudar para ter um futuro melhor. O ideal de atingirmos a felicidade não tem de ficar em modo espera enquanto acabamos os estudos. Pelo contrário, os estudos devem ser exatamente o meio de enriquecimento para uma vida melhor. Para uma vida com mais cultura, para uma vida com mais conhecimento, com maior entendimento pelo mundo que nos rodeia, com mais esperteza, com mais consciência e sensibilidade.
E se é mais fácil sermos felizes atingindo os nossos objetivos, e se os estudos devem apenas facilitar a concretização destes mesmos, então os estudos, no fundo, podem ser o “carpe diem” da nossa vida.